Como tive que preparar uma palestra sobre o assunto, vou compartilhar o que concluí a partir de meus estudos sobre o tema.
O termo HIPERATIVIDADE, pode ser usado em dois contextos clínicos diferentes. Um cão que é excessivamente ativo, a não ser que se crie uma nova terminologia como: SUPERATIVO ou MEGA-ATIVO, pode ser chamado de Hiperativo. O prefixo "Hiper" seguido do adjetivo "ativo" qualifica o indivíduo como aquele que tem atividade excessiva, portanto pode ser aplicado em quaisquer situações em que o cão apresente comportamento exacerbadamente mais ativo do que o esperado.
Essa ambiguidade do termo vai de encontro com o que alguns autores dizem. Esses consideram como hiperativos os animais com um distúrbio neuro-funcional equivalente ao TDAH dos seres humanos. Tal distúrbio ocorre provavelmente por uma disfunção na produção/captação da Dopamina no Sistema Nervoso Central (SNC).
Então, como diferenciar? Podemos chamar a hiperatividade decorrente da disfunção neuro-funcional de Primária ou Verdadeira, e a Hiperatividade decorrente de um comportamento adquirido a partir da interação do cão com o meio (físico ou social) como Hiperatividade Secundária ou Adquirida.
HIPERATIVIDADE PRIMÁRIA
Como já foi dito, este quadro ocorre por uma captação ou produção anormal de Dopamina no SNC e é equivalente ao TDAH (Transtorno de Défict de Atenção e Hiperatividade) em seres humanos.
Como sinais da Hipertatividade Primária encontramos:
•Falha para se acalmarem em ambientes neutros;
•Pouca atenção;
•Baixa treinabilidade;
•Exibições agressivas;
•Agitação.
A apresentação deste quadro é bem semelhante ao da Hiperatividade Secundária, porém há dois itens de diagnóstico diferencial: avaliar a capacidade de aprendizado e avaliar a resposta ao tratamento farmacológico.
Um cão primariamente hiperativo não consegue aprender com a mesma facilidade de um cão "normal". Então, um teste simples a ser feito é ensinar um comando simples ao cão, como SENTA, por exemplo. Se ele aprender com facilidade, é possível descartar o quadro de Hip. Primária. Mas o cão pode não aprender por outras razões, como: ambiente desconhecido, falta de interesse pela recompensa (não gosta do petisco ou acabou de se alimentar, p. ex.) ou dificuldades motoras (displasia coxo-femoral, deslocamento de patela ou características raciais como as patas dos bassets). Nesses casos é importante fazer o diagnóstico medicamnetoso. Cães "normais" ficam mais excitados com o uso de anfetaminas, os cães verdadeiramente hiperativos se acalmam.
HIPERATIVIDADE SECUNDÁRIA
Este tipo de hiperatividade é decorrente de um desequilíbrio entre as necessidades físicas do cão e o que lhe é proporcionado em termos de espaço e interação. O cão pode requerer uma demanda de atividade maior do que lhe é ofericida. Por exemplo, a raça Border Colie foi desenvolvida para pastoreio de ovelhas, são cães bastante ativos. Ter um Border colie em um apartamento pequeno (ou dentro de casa) e não dedicar pelo menos umas 2-3horas de atividade com ele (brincadeiras e passeios) é praticamente uma receita certa para produzir um cão secundariamente hiperativo.
Cães que vivem em espaços pequenos e cães que vivem em ambientes conflituosos também tendem à Hiperatividade Secundária. Alguns cães são hiperativos poque aprenderam a sê-lo, a única maneira de ter a atenção das pessoas é comportando-se como o personagem Taz da Warner Bros.
A hiperatividade primária ou secundária é um forte argumento para que todo cão seja educado desde filhote e que a opção, a escolha e a interação do proprietário com o cão sejam orientadas por um profissional.