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Niterói, RJ
Médico Veterinário que trabalha no tratamento e no estudo de distúrbios de comportamento em cães e gatos. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9116323178127878

quarta-feira, 30 de março de 2011

IMPORTANCIA DA QUALIDADE DE INTERAÇÃO DO PROPRIETÁRIO COM O CÃO NA A PREVENÇÃO DA SÍNDROME DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO

Autores: GUILHERME MARQUES SOARES; JOÃO TELHADO; RITA LEAL PAIXÃO

ABSTRACT: Importance of a Quality Owner-Dog Interaction in Preventing Separation Anxiety Syndrome. Many factors can lead to the development of separation anxiety syndrome in dogs. In this study, dogs that interacted more with owners, dogs that were walked more times a day, dogs that played more with owners or were groomed frequently by owners presented more resistance to show the syndrome’s signs than others. In conclusion, owner-dog quality time seems to diminish the syndrome development.

KEY WORDS. Separation Anxiety, Dog Behavior, Animal welfare

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS) é um dos problemas de comportamento mais comumente encontrados em cães de companhia1, pode acometer até 40% dos cães2, e afeta diretamente a qualidade de vida dos animais3 além de trazer consigo uma série de inconvenientes aos proprietários. É normalmente descrita como um grupo de sinais que o animal apresenta quando fica sozinho em casa ou simplesmente afastado da(s) pessoa(s) com que tem maior vinculo. Os comportamentos mais descritos são: vocalização excessiva, comportamentos destrutivos; eliminações inapropriadas (micção e defecação)4, entretanto alguns animais podem apresentar vômitos ou depressão5. Existem relatos de fatores que possam predispor esse quadro dentre eles: raça5, sexo6, idade7, proprietários ansiosos8 e animais que convivem com uma única pessoa9. É sabido também que a interação do proprietário e o ambiente social interferem para a ocorrência de vários problemas de comportamento10.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram aplicados 103 questionários a proprietários de cães de apartamento de Niterói-RJ. Os questionários foram desenvolvidos para identificar sinais compatíveis com a SAS e identificar se algumas rotinas e manejos interferem de alguma maneira no problema. A interatividade foi avaliada a partir da combinação entre os hábitos de passear diariamente, escovar periodicamente e brincar regularmente com o cão, que foram divididos em grupos de forma a caracterizar, para fins deste levantamento, o que foi aqui chamado de “interação mínima desejável” (IMD). Ou seja, se o proprietário tem ou não um mínimo de interação adequada com as necessidades da espécie11. Para entrar no grupo dos que têm um mínimo de interação com seu cão foram considerados: um mínimo de 20 minutos de passeios diários, associados com brincadeiras diárias (com brinquedos) ou escovação diária, tendo como exceção a esta regra um animal que não tinha brincadeiras ou escovação diárias, mas tinha 4 passeios diários de 20 minutos. Animais que não apresentavam essas características eram considerados como sem IMD. Na categorização dos grupos em relação ao desenvolvimento da SAS, foram considerados positivos aqueles animais que apresentaram, de acordo com os itens marcados no questionário, ao menos um dos sinais característicos da SAS associados a itens que caracterizassem hipervinculação do cão com o proprietário. Os itens que caracterizavam hipervinculação foram: seguir o proprietário pela casa, mostrar alterações de comportamento na partida do proprietário e excitação extrema no seu retorno.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Depois dos questionários respondidos, apresentaram sinais compatíveis com a SAS e, para fins deste estudo, 61 animais (59,2%) foram considerados “positivos” e dentre esses, 37 (60,6% do grupo com SAS, 35,9% do total) pertenciam ao grupo dos sem IMD. Enquanto que, dos 42 animais (40,8%) que foram caracterizados como “negativos” para SAS, 27 (64,3% dos negativos para SAS e 26,2% do total) foram incluídos no grupo dos com IMD. Sendo importante ressaltar que não existe um padrão pré-estabelecido para quantidade ou qualidade de interação como o cão, mas neste estudo os animais foram assim agrupados para avaliar a influência da interação no desenvolvimento dos sinais compatíveis com a síndrome. Os grupos foram comparados, utilizando-se o teste de Qui-quadrado clássico e os resultados se mostraram evidentes (X2calc=6,19; X2tab=3,84; α=0,05), sugerindo que a qualidade e a quantidade de interação interferem positivamente na prevenção da SAS (figura1).

FIGURA



Figura 1 – Comparação entre interatividade do proprietário e o sugestivo desenvolvimento da SAS


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DENENBERG, S.; LANDSBERG, G.M.; HORWITZ, D.; SEKSEL, K. In: MILLS et al. Current Issues and Research in Veterinary Behavioral Medicine, Indiana: Purdue University Press, 2005, p.56-62.
2. SEKSEL, K.; LINDEMAN, M. J. Australian Veterinary Journal, 79 (4): 252-256, 2001..
3. MCMILLAN F.D. JAVMA, 216 (12):1904 -1910, 2000.
4. APPLEBY, D.; PLUIJMAKERS, J. Vet Clin North Am Small Anim Pract; 33(2):321-344, 2003.
5. MCCRAVE, E.A. Vet Clin North Am Small Anim Pract, 21: 247-256, 1991.
6. TAKEUCHI, Y.; OGATA, N.; HOUPT, K.A.; SCARLETT, J.M. Applied Animal Behaviour Science, 70 : 297-308, 2001.
7. HORWITZ, D.F. Veterinary Medicine, 96 (11):.869-877, 2001.
8. O´FARRELL, V. Applied Animal Behaviour Science, 52: 205-213, 1997.
9. SCHWARTZ, S. JAVMA, 222, (11), 2003.
10. BENNETT, P.L.; ROHLF, V.I. Applied Animal Behaviour Science, 102 : 65–84, 2007
11. FOGLE, B. The Dog’s Mind. London: Pelham Books, 1992. 201 p.


Trabalho apresentado em forma de Pôster na VII Conferencia Sul-americana de Medicina Veterinária - Rio de Janeiro - 2007

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