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Niterói, RJ
Médico Veterinário que trabalha no tratamento e no estudo de distúrbios de comportamento em cães e gatos. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9116323178127878

quarta-feira, 30 de março de 2011

ASPECTO CONDICIONAL NA SÍNDROME DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO EM CÃES

Autores: GUILHERME MARQUES SOARES ; JOÃO TELHADO ; RITA LEAL PAIXÃO

ABSTRACT: Conditional Aspect in the Separation Anxiety Syndrome in dogs. Many dogs present signs compatible with the Anxiety Separation Syndrome. However, that is usually observed only in specific situations. That issue is not frequently discussed in most references, although nearly 10% of the 118 interviewed owners in this study reported that their dogs presented suspicious clinical or ethological signs. Those findings indicate that some of these dogs exhibit characteristics compatible with the syndrome.

KEY WORDS. Separation Anxiety, Dog Behavior, Animal welfare

INTRODUÇÃO

Ansiedade de separação é uma síndrome clínica e um dos problemas de comportamento mais comuns encontrados em cães de companhia[1]. Aproximadamente 14% dos cães atendidos por médicos veterinários nos EUA apresentam sinais da síndrome[2], que afeta diretamente a qualidade de vida dos animais[3] e traz consigo uma série de inconvenientes aos proprietários. Esta síndrome é normalmente descrita como um grupo de comportamentos que o animal apresenta quando fica sozinho em casa ou simplesmente afastado da(s) pessoa(s) com que tem maior vinculo.
Os comportamentos mais descritos são: vocalização excessiva, comportamentos destrutivos; eliminações inapropriadas (micção e defecação)[4], entretanto alguns animais podem apresentar vômitos ou depressão[5]. Todavia alguns animais só apresentam estes comportamentos em situações, de solidão/quebra do vínculo, específicas,geralmente quando há uma quebra na rotina da família[6]. Este estudo tem o objetivo de chamar atenção para este aspecto da síndrome, já que o mesmo dificulta seu diagnóstico e consequentemente, seu tratamento.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram realizadas 118 entrevistas com proprietários de cães no município de Niterói-RJ, as quais foram gravadas e analisadas para identificar as histórias compatíveis com a Síndrome de Ansiedade de Separação (SAS) e suas possíveis variações. As entrevistas foram realizadas de agosto a novembro de 2006, em clinicas veterinárias e lojas especializadas do bairro de Icaraí e os entrevistados foram selecionados de forma aleatória. Nas entrevistas foi perguntado: se o animal apresentava alguma atitude que incomodava o proprietário; se tinha algum problema de comportamento; quando e por que teria começado a apresentar o(s) comportamento(s) incômodo(s) e/ou problemático(s); se o animal fazia algum tipo de “pirraça”; se o proprietário utilizava algum recurso para não deixá-lo sozinho, por que e como era o comportamento do cão quando ficava sozinho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 118 entrevistas, 42 (35,6%) apresentaram histórias compatíveis com a síndrome de ansiedade de separação, o que está de acordo com a descrição de autores de que até 40% dos cães apresentam este problema[7] . Dentre estas, em 11 (9,3%) os proprietários descreveram que seus cães exibiam os sinais da síndrome, apenas sob determinadas condições (figura1). Cinco animais (4,2%) exibiam os sinais apenas quando havia mudanças na rotina do proprietário. Por exemplo, em um desses casos, o cão rotineiramente acompanhava o proprietário para o trabalho, mas caso ficasse em casa sozinho durante o dia começava a vocalizar, o que não ocorria se o período de solidão fosse à noite. Em outro caso verificava-se o oposto, os proprietários podiam sair para trabalhar sem que o cão manifestasse nenhum sinal da síndrome, porém se a ausência dos mesmos era à noite o animal passava a exibir os sinais. Os outros 6 proprietários (5,1%) descreveram que seus animais demonstravam os sinais da síndrome quando havia alterações nos seus rituais de partida. Três proprietários relataram que seus cães necessitavam que eles “se despedissem” ou “dessem satisfação” antes de sair, caso contrário havia exibição de sinais da síndrome. Até mesmo a via de saída do proprietário pode ser o fator condicional, como no caso em que se usar a porta da frente o animal fica tranqüilo, mas se sair pela dos fundos o animal fica “ansioso”. Fatores ambientais (acender a luz antes de sair) também foram mencionados, assim como fatores sociais (sair acompanhado ou sozinho). Esta variante da ansiedade de separação leva muitos profissionais Médicos Veterinários e mesmo proprietários a descartarem o diagnóstico, visto não se enquadrarem na definição clássica da síndrome. A síndrome pode ser definida como: alterações de comportamento apresentadas pelo animal na ausência da figura de ligação, podendo esta ausência ser configurada apenas por um afastamento de poucos metros ou pela separação por uma barreira física (porta ou caixa de transporte, por exemplo) desta figura de vínculo. Este fato contribui para que o quadro clínico não seja tratado, o que implica numa perda da qualidade de vida de donos e animais, podendo mesmo levar à ruptura do vínculo entre eles com conseqüente abandono ou morte do animal[8] .



Figura 1 – Proporção dos casos condicionais da Síndrome de Ansiedade de Separação










REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. TAKEUCHI Y.; OGATA, N.; HOUPT, K.A.; SCARLETT, J.M.. App. An. Behaviour Sci., (70):297-308, 2001.
2. OVERALL K.L.; DUNHAM A.; FRANK D.. JAVMA, 219 (4): 467-472, 2001.
3. MCMILLAN F.D.. JAVMA, 216 (12):1904 -1910, 2000.
4. APPLEBY, D.; PLUIJMAKERS, J. Vet Clin North Am Small Anim Pract; 33(2):321-344, 2003.
5. MCCRAVE, E.A.. Vet Clin North Am Small Anim Pract, 21: 247-256, 1991.
6. LANDSBERG, G.; HUNTHAUSEN, W.; ACKERMAN, L.. Problemas Comportamentais do Cão e do Gato. 2
ed., São Paulo: Roca, 2004. 492p.
7. SEKSEL, K.; LINDEMAN, M. J.. Austr. Vet. J., 79 (4): 252-256, 2001.
8. KING J.N.; SIMPSON B.S.; OVERALL K.L.; APPLEBY D.; PAGEAT P.; ROSS C.; CHAURAND C.J.P.;
HEATH S.E.; BEATA C.; WEISS A.B.; MULLER G.; PARIS T.; BATAILE B.G.; PARKER J.; PETIT S.;
WREN J.. App. An. Behavior Sci., (67): 255-275, 2000.

Este resumo estendido foi publicado na Revista da Universidade Rural, Série Ciências daVida. Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007, p. 215-216

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