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Niterói, RJ
Médico Veterinário que trabalha no tratamento e no estudo de distúrbios de comportamento em cães e gatos. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9116323178127878

quarta-feira, 30 de março de 2011

AGRESSIVIDADE EM CÃES DE APARTAMENTO NO MUNICÍPIO DE NITERÓI-RJ

GUILHERME MARQUES SOARES ; JOÃO TELHADO ; RITA LEAL PAIXÃO

ABSTRACT: Aggressiveness in apartment dogs in Niterói-RJ city. Aggressiveness is always related with dog’s larger breeds, but is easy to see the smaller ones showing the same behavior problem. In this study, after examine 161 questionnaires that asked to dog’s owners that leaves in apartments in Niterói-RJ, about witch situations the dogs growls or try to bite, just 12,6% never showed any aggressive behavior. These results shows that have something wrong on the human-dog relationship that needs to be better studied.

KEY WORDS. Aggressiveness, Dog Behavior, Animal welfare

INTRODUÇÃO

A agressividade é o principal problema de comportamento que leva proprietários a procurarem atendimento veterinário especializado[1;2;3] . Nos Estados Unidos da América, cerca de 20 milhões de cães são abandonados ou submetidos a eutanásia anualmente por causa de problemas comportamentais[4] . A agressividade comumente está relacionada com a forma com que os proprietários interagem com o cão[5;6;7] . Um fator que contribui para aumentar as respostas agressivas é a idade, ou seja, animais quando atingem a fase senil de suas vidas tendem a se mostrarem mais agressivos[8] . Destaca-se a importância da prevenção da agressividade em quaisquer tamanhos ou raças de cães. Ainda que os de maior porte tragam um risco inerente maior, decorrente da potencial contundência de seus ataques, agressões oriundas de pequenos cães de companhia são traduzidas por seus proprietários como uma forma de traição[2] , acarretando perda na qualidade de vida de ambos. Este levantamento destina-se a quantificar e qualificar alguns aspectos relacionados à agressividade canina direcionada a seres humanos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram aplicados 161 questionários a proprietários de cães de apartamento no município de Niterói-RJ. Nesses questionários havia a pergunta “Quando seu cão rosna ou tenta morder” seguida de onze respostas fechadas e uma opção para o proprietário descrever alguma situação que não estivesse listada. As opções foram: “ao ser escovado”; “ao mexer-se no comedouro”; “pessoas desconhecidas”; “animais desconhecidos”; “ao ser contrariado”; “quando acordado”; “para cortar as unhas”; “para limpar ouvido”; “ao ser medicado”; “ao ser examinado pelo veterinário” e “no serviço de banho e tosa”. Os questionários foram distribuídos em clinicas veterinárias e lojas especializadas no bairro de Icaraí, de forma aleatória a proprietários de cães residentes em apartamentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Responderam e devolveram o questionário 103 proprietários e desses, 90 proprietários (87,4%) relataram que seus cães apresentam agressividade (rosnam ou tentam morder) em pelo menos uma situação (figura1), número compatível com estudo já publicado[9] , 46 (44,7%) em ao menos 2 situações, 23 (22,3%) em ao menos três e 8 (7,8%) em quatro ou mais situações. As ocasiões que mais desencadeiam respostas agressivas são: quando contrariados (30,1%) e para animais desconhecidos (30,1%). O primeiro caso pode caracterizar um perfil dominante [2] dos animais ou ao menos uma dificuldade de controle dos proprietários sobre seus cães. O segundo, assim como o terceiro que foi a presença de pessoas desconhecidas (22,3%) refletem uma falha no processo de socialização [10] desses animais. Alguns procedimentos, que podem ser dolorosos, com potencial para desencadear episódios de agressão reativa à dor também se encontram listados: quando escovados (13,6%); ao cortar as unhas (12,6%) e ao limpar ouvido (9,7%), tais percentuais podem ser diferentes de trabalho já publicado em virtude de muitos desses animais apenas serem submetidos a esses procedimentos nos serviços de banho e tosa de clínicas e lojas especializadas, que podem não informar aos proprietários a ocorrência de tais episódios[11]. A ocorrência de agressividade no serviço de banho e tosa (8,7%) também foi aquém de dados já publicados[11] . Outros itens como: ao mexer-se no comedouro (9,741%); ao ser acordado (4,8%); e ao mexer-se nos pertences do cão (2,9%); que caracterizem dominância ou dificuldades no manejo dos animais por parte dos proprietários aparecem em menor número, mas compondo o mesmo quadro do primeiro item já relatado e discutido. Fatos que interessam muito aos Médicos Veterinários que atuam na clínica médica de pequenos animais são os relatos de 6 proprietários (5,8%) que seus cães reagem agressivamente durante o exame clínico e 8 (7,8%) ao serem medicados. Neste estudo existem vários indícios de um grande número de animais têm na dominância e na falta de socialização primária suas grandes motivações para exibir comportamentos agressivos. Um dos principais argumentos para caracterizar a dominância dos cães como motivador da agressividade é a própria metodologia empregada onde se baseou a amostragem em proprietários de cães residentes em apartamentos, levando-se a crer que os comportamentos agressivos ocorriam em âmbito doméstico[12] . A maioria desses episódios descritos poderia ser evitada com correta orientação dos proprietários com noções de hierarquia e comunicação caninas e com trabalhos de socialização e educação básica desses animais[10].


Figura 1 – Contextos ou atividades citadas pelos proprietários, nas quais seus cães rosnam ou tentam morder.













REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DENENBERG, S.; LANDSBERG, G.M.; HORWITZ, D.; SEKSEL, K.. In: MILLS, D.; LEVINE, E.; LANDSBERG, G.; HORWITZ, D.; DUXBURY, M.; MERTENS, P.; MEYER, K.; HUNTLEY, L. R.; REICH, M.; WILLARD, J. Current Issues and Research in Veterinary Behavioral Medicine. Indiana: Purdue University Press, 2005, p. 56-62.
2. LANDSBERG, G.; HUNTHAUSEN, W.; ACKERMAN, L. Problemas Comportamentais do Cão e do Gato. 2 ed., São Paulo: Roca, 2004. 492p.
3. WRIGTH, J.C. Vet. Clin. North Am.: Small An. Pract...21, (2): 299-314, 1991.
4. SEKSEL, K. Vet. Clin. North Am.: Small An. Pract., 27 (3) : 465-475, 1997.
5. BENNETT, P.L.; ROHLF, V.I. App. An. Behaviour Science, 102 : 65–84, 2007.
6. JAGOE, A; SERPELL, J. App. An. Behaviour Science, 47 : 3l-42, 1996.
7. O´FARRELL, V. App. An. Behaviour Science, 52 : 205-213, 1997.
8. HORWITZ, D.F. Vet. Med., 96 (11) :.869-877, 2001.
9. GUY, N.C.; LUESCHER, U.A.; DOHOO, S.E.; SPANGLER, E.; MILLER, J.B.; DOHOO, L.R.; BATE, L.A. App. An. Behaviour Sci., 74 : 43-57, 2001.
10. SERRA, C.M. Avaliação de um método para socialização primária de filhotes de cães domésticos e seus efeitos nos participantes, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 87p. (Tese de Mestrado), 2005.
11. SOARES, G. M.; EPPINGHAUS, J. V.; RAMOS A. C. F. Revista Nosso Clínico, 49 : 60-64, 2006.
12. CAMERON, D.B. App. An. Behaviour Sci., 52: 265-274, 1997.

Este resumo espandido foi publicado na Revista da Universidade Rural, Série Ciências da Vida - Seropédica, RJ, EDUR, v. 27, suplemento, 2007. p. 324-325

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