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Niterói, RJ
Médico Veterinário que trabalha no tratamento e no estudo de distúrbios de comportamento em cães e gatos. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/9116323178127878

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Cães que latem muito, um problema com solução.

É comum ouvirmos relatos de pessoas envolvidas em litígios, até judiciais, com seus vizinhos, decorrentes dos latidos excessivos de seus cães. Temos que concordar que um cão latindo exaustivamente pode causar um desconforto que beira a loucura. A boa notícia é que existe tratamento para quase todas as manifestações de latidos excessivos, com terapias comportamentais para cães.
Talvez uma das histórias mais comuns seja a do cão que late assustadoramente (ou chora ou uiva) quando fica sozinho em casa e cujo dono muitas vezes não o escuta latir, ficando para esta pessoa a nítida sensação que algum vizinho ou o síndico do prédio o persegue.
Uma das explicações para o dono do cão não ouvir seus latidos é que, normalmente, o cão começa a latir quando perde o contato olfativo com seu dono, o que normalmente ocorre depois do dono perder o contato auditivo com o cão. E na volta, o cão pára de latir antes de o dono ouvi-lo pelo mesmo motivo.
Cães que latem quando ficam sozinhos em casa podem estar sofrendo de uma doença, uma síndrome clínica chamada de Síndrome de Ansiedade de Separação, que é caracterizada por um conjunto de comportamentos decorrentes de alterações neuro-biológicas no Sistema Nervoso Central dos cães (também podendo acometer gatos). Essas alterações são comparadas àquelas apresentadas por pessoas que sofrem de Síndrome do Pânico e causam um forte impacto na qualidade de vida dos animais. Estes, além das vocalizações excessivas podem apresentar comportamentos destrutivos, micções e defecações em locais inapropriados, vômitos, excesso de salivação e depressão. Pode também trazer como conseqüências comportamentos compulsivos (p.ex. lamber em excesso alguma parte do corpo ou objeto externo, caçar insetos inexistentes, correr atrás da cauda, andar em círculos ou desencadear movimentos ritmados de cabeça ou com o corpo). Todos esses comportamentos que podem se apresentar combinados ou isolados normalmente são inconvenientes para os proprietários desses cães.
Existem duas medidas práticas para prevenir o desenvolvimento dessa síndrome. A primeira é respeitar o período natural de separação do cão, ou seja, imitar o que ocorre naturalmente em grupos de cães, onde o filhote é posto à margem da matilha com cerca de quatro meses. Nesta fase o cãozinho tem que aprender a se virar sozinho e não é mais beneficiado com alimento e abrigo. Para simular esta realidade em casa deve ser providenciado um cantinho para o filhote dormir longe dos quartos. A outra medida é promover o máximo de interação possível com o cão, passear bastante, brincar bastante e escovar diariamente. A única ressalva é que toda interação deverá ser iniciada e finalizada por iniciativa do proprietário, não devendo este responder às solicitações do cão neste sentido para não gerar outros problemas de comportamento no peludo.
É importante ressaltar que os cães podem estar sofrendo de doenças e por isso latem. Porque assim a relação de tolerância e cooperação entre os vizinhos é capaz de mudar e a alternativa de tratar esses animais pode se mostrar mais consensual para todos (principalmente para os cães) do que providenciar a extradição do animal do condomínio ou duelos e atritos entre as partes.
Concluindo, se seu vizinho tem um cão que late exageradamente quando fica sozinho, se compadeça dele e oriente-o. Este cão pode estar sofrendo de um transtorno clínico-comportamental (para não chamar de psiquiátrico). Oriente-o a procurar um Médico Veterinário para que ele proponha o tratamento mais adequado e principalmente ajude-o, pois ele precisará de apoio para o tratamento. Saiba que estará contribuindo para o bem-estar daquela família (incluindo o cão) e poderá estar ganhando a confiança e a amizade de seu vizinho.
Então vão algumas dicas para evitar ou minimizar diversos problemas, inclusive a Síndrome de Ansiedade de Separação:
- Respeite seu cão como ele é, ou seja, um cão. Não queira dele mais do que ele pode te dar;
- Socialize e eduque seu cão desde filhote, assim como as pessoas, todo cão deve ser educado. Todo cão deve ser socialmente aceitável por todos e não somente suportado por algumas pessoas;
- Interaja de forma consistente com seu cão, ele é um animal social que precisa de interação de qualidade;
- Cães de apartamento precisam de exercícios regulares, portanto o cão não deve ir à rua somente para ir ao “banheiro”. Pelo menos 30minutos de passeios diários farão muito bem ao peludo;
- Ensine seu cão a ficar sozinho desde filhote;
- Em casos de mudanças previsíveis na rotina (volta de férias, mudança de horários de trabalho, nascimento de bebês, etc), habitue seu cão a elas, para que ele não se depare com uma situação nova de repente.
- Seja consistente na relação com seu cão, como crianças eles precisam de coerência nas regras de convivência. Por exemplo, se você não quer seu cão em cima da sua cama quando ele estiver sujo ou quando você estiver querendo dormir sem ele, não deixe que ele suba em nenhuma situação.

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